Não É Culpa do Mar

Chegou sem avisar, como um penetra na minha vida particular. Encheu de alegria aquele momento e disse que tinha chegado pra ficar. Não, não disse, mas sinalizou com todos os gestos e todos os abraços que tinha me dado. Amigos. Uma onda que invadiu o deserto que deserto deixou de ser. Agora nasciam árvores, flores, sentimentos, felicidades, alegrias. Abriu o peito fechado, quebrou o escudo lacrado e invadiu o que não era seu. Tornou-o seu. Pegou para si aquilo que era do outro num ato egoísta e impensado já levava condigo aquilo que tinha roubado. Um roubo deste não tem sentença, você sabe. Não tem julgamento por roubo deste tipo.

Depois foi embora, levando consigo parte do que tinha roubado. Ficaram memórias, ruminadas para o resto da vida. Talvez tenha sido muito fácil, quebrar o escudo. Talvez ela quisesse algum mais forte, mais difícil de ser quebrado. A onda que invadiu o deserto agora virou um tsunami invadindo a cidade, derrubando as edificações e levando tudo aquilo que ele tinha construído durante os anos de sua existência. Se cada um que entrará na sua vida levará um pouco dele consigo o que sobra pra ele é nada ou quase nada dele e muito ou quase tudo dos outros. Uma crise de existência dramalhona onde você percebe que tudo o que você achou que era seu um dia na verdade foi roubado de outra pessoa como roubaram de você algum dia e você não pode mais culpar uma única onda por todos os estragos em sua alma porque elas fazem parte de algo bem maior que isso.

Decomposição

Tem um cheiro podre, sabia? Um cheio de inveja, egoísmo, luxúria, pecado. Tudo junto num único planeta sem distinção de continente, país, idade ou raça. Tem um cheiro de hipocrisia a sociedade dos homens, sabe. Um cheiro incômodo com o qual não condigo me acostumar, um cheiro que chega até mim, mas não fica nem é produzido aqui. Sorrisos de comercial de pasta de dente vendendo confiança no grau de brancura dos ossos. Dentes são ossos. Brancura não passa confiança. A sua beleza não me engana, você quer a minha cabeça servida numa bandeja banhada com todo o meu sangue sofrido, que lutou por mim e para mim. Que me mantinha vivo, alerta contra todos os seus planos. Porque eu sabia todos os seus podres, eu sentia o cheiro de merda que emanava de você. Chegava a imaginar moscas rondando a sua cabeça como urubu na carne podre, morta. Ferido já fui pela sua língua que lança sobre mim mentiras como facas afiadas das quais tento desviar-me. Mas faltei nas aulas na Matrix e não consigo me desviar de todas elas. Agora cansei. Cansei de feridas que não se curam, cansei de ter a confiança traída e vesti a minha armadura contra você, estou protegido. Não acredito em nada que me dizes, mesmo que um dia resolvas dizer a verdade. Desculpe-me se estou sendo injusto, mas só cansei de sofrer por você, humano.

Lugar Nenhum

Não me vejo no que hoje estou. Não sinto como se todo o meu caminho tivesse sido guiado por mim, mas sim levado até aqui por alguma força maior. Não é o que me faz feliz, satisfeito. Aliás, o que é felicidade? Felicidade é ganhar/comprar alguma coisa que você tanto queria? É estar perto de quem se gosta? Ou é uma situação permanente que se conquista e chega em um ponto onde você tem ou nunca mais terá? Nunca. Sim, eu digo nunca sem culpa. Se algumas pessoas nascem em “berço de ouro” outras não nascem e estão fadadas a morrer sem ele, porque cair é bem mais fácil que subir. Para você cair todo mundo, cheio da solidariedade humana, te empurra para baixo. Mas se você começa a subir, não se engane, vai todo mundo continuar te empurrando pra baixo. Pra existir rico tem que existir pobre e quanto mais pobre mais admirada a elite. Nunca confie em ninguém que não seja você mesmo, porque ninguém vai pensar em nada além dele mesmo e do dinheiro. E falo sério quando digo isso. Só confie em você mesmo porque quando o bicho pega é cada um por si.

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