Não É Culpa do Mar

Chegou sem avisar, como um penetra na minha vida particular. Encheu de alegria aquele momento e disse que tinha chegado pra ficar. Não, não disse, mas sinalizou com todos os gestos e todos os abraços que tinha me dado. Amigos. Uma onda que invadiu o deserto que deserto deixou de ser. Agora nasciam árvores, flores, sentimentos, felicidades, alegrias. Abriu o peito fechado, quebrou o escudo lacrado e invadiu o que não era seu. Tornou-o seu. Pegou para si aquilo que era do outro num ato egoísta e impensado já levava condigo aquilo que tinha roubado. Um roubo deste não tem sentença, você sabe. Não tem julgamento por roubo deste tipo.

Depois foi embora, levando consigo parte do que tinha roubado. Ficaram memórias, ruminadas para o resto da vida. Talvez tenha sido muito fácil, quebrar o escudo. Talvez ela quisesse algum mais forte, mais difícil de ser quebrado. A onda que invadiu o deserto agora virou um tsunami invadindo a cidade, derrubando as edificações e levando tudo aquilo que ele tinha construído durante os anos de sua existência. Se cada um que entrará na sua vida levará um pouco dele consigo o que sobra pra ele é nada ou quase nada dele e muito ou quase tudo dos outros. Uma crise de existência dramalhona onde você percebe que tudo o que você achou que era seu um dia na verdade foi roubado de outra pessoa como roubaram de você algum dia e você não pode mais culpar uma única onda por todos os estragos em sua alma porque elas fazem parte de algo bem maior que isso.

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