Sobre Todas as Coisas que Eu...

Deixei tudo de ruim para trás. Os erros cometidos, as decepções, os medos, os obstáculos, as pessoas. Desapeguei-me de tudo que me impedia de mudar, joguei tudo fora, mandei tudo para outro lugar. Mas mudar é tão difícil, esquecer então. Quem esquece? A maldade pode ser esquecida por quem faz, mas será sempre lembrada por quem sofreu. O agente da boa ação será esquecido por quem recebeu, mas ela será sempre lembrada por quem a fez. Mas procurei esquecer tudo. As boas ações, as maldades, os corações partidos, os desejos reprimidos, os amigos mais antigos, as festas surpresas, os momentos constrangedores, as festas de colégio, os shows com os amigos, os arrependimentos. Não posso voltar no tempo, não posso e talvez não queira, estou bem onde estou. Mas posso mudar. Mudar meu jeito, mudar de amigos, mudar. Afastar aquilo que me faz mal, afastar aquilo que me atrasa, mandar embora a corrente que me prende a isto aqui. Afastar você de mim. Todo esse sentimento reprimido, que não tem coragem de sair. Todos esses sonhos proibidos que me envergonham só de lembrar. Todos os seus amigos que insistem em levar você para longe de mim. Toda essa vergonha que me impede de chegar perto de ti. Todas essas frases oprimidas nas celas da minha mente, aprisionadas por correntes a paredes de cálcio. Mudar. É tão difícil, mas necessário. Mudar. Por um novo final, por um final diferente. Tomar o leme do meu próprio barco, a rédea do meu próprio cavalo, o controle da minha própria vida. Minha. De mais ninguém. Minha, só minha.

A Luta de Ninguém

Corre contra o tempo, corre a procura do que não sabe. Guerreiro sem causa na guerra dos outros, jogado no meio do campo de batalha como mais uma peça solta que procura o seu encaixe e talvez nunca o ache. Uma causa pela qual lutar, um sonho pelo qual seguir. Nada. É como nadar num oceano sem nunca achar a praia, nem mesmo para morrer. Segue as regras dos outros, tentando fazer as próprias. Questiona tudo e todos, mas não consegue ser ouvido, fala baixo demais, é tímido. Com a arma na mão, anda em posição de ataque, pronto para entrar em conflito com o primeiro que lhe encarar, mas ninguém parece percebê-lo. No meio de bombas, tiros, barulhos ensurdecedores e poeira ninguém consegue vê-lo por mais que tente chamar a atenção. Não tem sinalizador, não tem lanterna de qualquer cor e ele se senta. Senta no chão árido, sensação térmica de 40°, olha para os lados e encontra um espelho. Um espelho? “Pega-o, menino, pega-o”, fala uma voz que vem dele mesmo. Já não tem a mobilidade que se lembrava ter, todos os alongamentos pareciam não ter mais efeito. Conseguiu pegar com dificuldade e olhou. Viu alguém diferente, alguém que não era ele, alguém com marcas de tempo, rugas de preocupação e um passado vazio, sem muitos feitos. Alguém que ele não queria que fosse ele. Mas era. Choro. Decepção. Raiva.

Piscar de Olhos.

Passou e ele nem percebeu. A oportunidade que ele sempre sonhara chegou tão perto e ele nem percebeu. Estava ocupado demais lamentando a própria falta de sorte, de como a vida era injusta e da falta de oportunidades. Falta? Tinha vários sonhos, era o mais perfeito exemplo de sonhador. Sonhava com sucesso, sonhava com desejos, com reconhecimento e carreia sólida. Mas ainda esperava a oportunidade. A faculdade não cursada, o curso não concluído, o peso da idade, da responsabilidade. A cobrança. Ele se cobrava tanto que chegava a ser seu pior inimigo, seu maior obstáculo e, talvez, o mais difícil de ultrapassar. Ou não. Talvez. Tem tamanha baixa auto-estima que talvez imagine que nem para ser obstáculo ele serve. Engano. Tudo o que ele não percebe é o grande engano. A grande ilusão que ele absorveu como verdade absoluta, esquecendo que verdades absolutas não existem.

Subjetividade

Eu poderia escrever uma crítica à “Alice in Wonderland”, afinal todos os detalhes ainda estão guardados na minha cabeça, mas não vou. A rede está saturada de sites/blogs que postam críticas, boas ou não, de todos os filmes lançados. Se vieram para cá procurando uma crítica à Alice sugiro que vocês leiam a crítica do mestre, digo do Pablo Vilaça. A minha questão aqui é: o que se caracteriza como um bom filme? Eu poderia alargar a discussão e perguntar o que faz um bom livro, uma boa pintura, uma boa escultura.

Vejo filmes consagrados como clássicos, como marcos, como lixos épicos e isso sempre me pareceu um senso comum entre... Quem? Quem disse que aquele musical é o melhor de todos os tempos, quem disse que aquela ficção é a melhor e única? Quando inventaram um gosto comum para as artes?

Alguns podem ver pela visão técnica, outros podem enxergar com a visão de leigos e ter opiniões diferentes, não significando que uma vai estar certa e outra errada. Técnicas se reinventam, técnicas nascem. Acadêmicos, com sua mania de classificar as coisas, então sempre encontrando uma nova técnica quando o comportamento não se encontra nas definições já definidas. E a surgem os prêmios. Quantas vezes você já não discordou do resultado desses awards da vida e até do Oscar? Eu já, e não foram poucas.

Se passar de cinema para música caio no paradigma sobre o que é rock e o que não é. Essa luta travada hoje entre bandas e fãs, entre críticos e tradicionalistas. E dentro do rock, o que é o bom rock e o que não é, mas... O que é um bom rock para você? O que é uma boa música, o que é uma boa melodia?

Todo esse papo non-sense e viajado aqui é só para falar que o bom e o ruim são subjetivos. Eu sei que você já sabe e não estou falando nada de novidade. Só estou desabafando sobre como me sinto por ter meu gosto censurado por alguns que procuram ser “normal” perante a sociedade, mas não vêem que o normal não tem graça nenhuma.

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