E o barquinho a navegar...

Já quis ser porto quando não me cabia.
Quando não tinha estruturas nem para ser meu próprio abrigo.
Quando fixar era um plano distante.
Quando meu corpo estremecia ao encontro de qualquer onde.
Quis ser abrigo de alguém.

E virei canoa em um mar que não aceitava canoa.
Desviava-me das ondas altas. Virava. Desvirava.
Caia. Sufocado.
È onda ou são as minhas lágrimas?

Percebi que precisava de algo mais estável.
Uma estrutura mais ajustada aos movimentos que a vida me servia.
Ajuda. Conversas e auto-conhecimento.
Pessoal, tão pessoal quanto eu nunca iria ser com ninguém.
Eu achava. Esperava.
Era uma defesa de mim mesmo que sempre me serviu.

E fui barco. O barco que um dia eu quis no porto.
Vaguei. Nadei.
Desbravei mares, olhares, corpos, peles.
Suados. Diversos. Outras formas. Lugares.
Nunca mais quis ser porto, pois porto estagna.
Quero mesmo é ser barco, que vaga e que se transforma.

Então encontrei outro barco e quis ir junto.
Juntos. Compartilhando as tormentas,
aproveitando as calmarias.
Um com o outro. Um pelo outro.
Seguimos. Os dois com problemas, com dúvidas e má decisões.
Os dois se apoiando, se cuidando, se (re)conhecendo.
Um se recuperando e o outro falecendo.
Um que escapou, outro que ficou sozinho.

Hoje continuo barco, mas com uma estrutura muito mais reforçada.
Sozinho, desbravando ondas.
Às vezes estendo as velas e deixo a correnteza me levar.
Às vezes pego o remo e vou para onde preciso estar.
Com objetivos meus. Traçando meu próprio caminho.
Conhecendo outros barcos, passando por alguns portos,
mas nunca realmente ficando.
Independente, como deveria ser.
Crescendo, como eu mereço.
Correndo atrás. Ou navegando.
As memórias sermpre no coração.
Uma vida toda pela frente.
E sigo. Quem sabe um dia não viro um cruzeiro.

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