Sobre Idade, Trabalho e Saudade

Esses dias apesar de corridos (clichê #1) tenho parado mais para ler os comentários em fotos das pessoas no facebook e tentado interagir mais com algumas delas, sem sucesso (clichê #2). Sou mestre em ser ignorado ou me fantasiar de homem invisível, já que estamos no carnaval e as redes sociais estão recheadas de fantasias que não me causam nada além de muita vergonha alheia (MUITA!). Sou tipo o Grinch do carnaval, mas nada contra o seu mau gosto, sério. Eu cultivo alguns maus gostos para mim mesmo e, sendo bem sincero, são os que mais me dão prazer (sem segundas intenções).

Mas o tema principal aqui não sou eu, são vocês. Nunca li em toda a minha vida tanto a mesma palavra tantas vezes como nesses dias. Nunca senti tanta angústia pelo estado em que nos encontramos, pelo estilo de vida que cultivamos como o correto. Correto para quem? Por quem? Segurei o coração, chorei internamente e li pela enésima vez a palavra “saudade”. Não sei se banalizamos a palavra (como banalizamos tudo hoje em dia, tornando a vida um tanto blasé), mas o sintoma para mim é interessante e ao mesmo tempo triste.


Sentimos saudade de alguém porque não encontramos mais a pessoa... Mas por quê não encontramos mais a pessoa? “Ah nossa, a minha vida anda tão sem tempo”. Não quero entrar nos detalhes do que você faz num dia, mas tenho certeza que nada é tão importante quanto rever um amigo. Vivemos correndo atrás de compromissos, de horários que não vamos poder cumprir, de tarefas que faremos de qualquer jeito porque o prazo é curto. Para que? Vivemos sob uma visão de que trabalhar te torna alguém digno de alguma coisa e que se você não trabalha não merece o meu respeito. Tanto que, se você está desempregado, as pessoas ao redor se desesperam em um nível agonizante como se você fosse entrar num limbo eterno e morrer em poucos dias. E nessas horas me sinto um velho.

Estou cansado de todos os clichês modernos. Sou dos velhos o mais ranzinza, já perdi as contas de quantos olhos revirei lendo postagens no facebook, todos os floods para mostrar o seu status na sociedade (parabéns, campeão), todos os comentários mais previsíveis e repetitivos. Estou cansado da sociedade, dos padrões menina faz isso menino faz aquilo, do racismo, da homofobia, do desrespeito. Dizem que sou da Geração Y e já me sinto mais cansado de viver do que o meu avô.


3 comentários:

  1. "Vivemos sob uma visão de que trabalhar te torna alguém digno de alguma coisa e que se você não trabalha não merece o meu respeito. Tanto que, se você está desempregado, as pessoas ao redor se desesperam em um nível agonizante como se você fosse entrar num limbo eterno e morrer em poucos dias."

    GUUURL! esse quote é EXATAMENTE o que se passa na minha mente every. single. day. desde que eu saí da famigerada ~revista~. muito bom ver alguém expressando esse meu pensamento.
    e essa coisa dos amigos sem tempo também. embora eu me culpe um pouco por isso, acho que no fim das contas, é aquela coisa de duas pessoas brigando por algo. não adianta só você correr atrás e tentar manter uma amizade. não adianta a outra pessoa se esforçar enquanto você não está nem aí pra ela. a gente acaba sendo egoísta muitas vezes, mas se não existir essa intenção de ambos em fazer aquilo valer a pena, não tem relacionamento que dure mesmo.

    cheers

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    1. Eu me culpo por algumas pessoas que se afastaram/me afastei, mas criei um certo mecanismo de defesa em relação a amizade mesmo. O caso é esse mesmo, se você quer e outra pessoa não não rola nem amizade, nem briga, nem nada. The problem is: eu me importo MUITO com as pessoas que me aproximo ou que eu gosto, num ponto de sofrer mesmo. Crio uma ligação monstruosa e muitas pessoas não. Então acabei me protegendo e ficando sempre afastado das pessoas, qualquer pessoa, para não acabar sofrendo e angustiado como já fiquei várias vezes. This is life.

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  2. Ai guinho...

    Nossa, você não tem noção do que se passou dentro de mim depois de ler isso. Parece que ouço a sua voz e vejo seu rosto enquanto descreve suas expressões. Lembro de quando papeavamos conversas monstruosas de grandes, repletas de emoticons pra expressar isso.

    Saudade.

    E agora me sinto a pior pessoa do mundo. Sério.

    O que tenho com vc, guinho, é uma coisa mt intensa, de verdade. Foi um dos poucos que levei, levo e levarei pro resto da minha vida. Odeio o fato de eu ter crescido, de ter entrado nessa responsabilidade de ter que estudar, de não ter mais tempo pra ficar largada no pc ou no cel 24h, me preocupando apenas com o que almoçaria no dia seguinte. Mas odeio mais ainda o fato de não reservar um tempinho, nem que seja 15 minutos, pra te dar um "oi" e perguntar sobre o dia. Tenho esse péssimo defeito de esperar que as pessoas venham até mim sempre. Até porque, confesso, meu circulo de amizades é um bocado grande. Estou odiando saber que fico em zona de conforto dessa maneira. Egoismo grotesco de minha parte.

    "Sentimos saudade de alguém porque não encontramos mais a pessoa... Mas por quê não encontramos mais a pessoa? “Ah nossa, a minha vida anda tão sem tempo”. Não quero entrar nos detalhes do que você faz num dia, mas tenho certeza que nada é tão importante quanto rever um amigo."

    Nada é tão importante quanto rever um amigo.

    "Saudade" está se banalizando. Mas não quero que se banalize entre nós. E mais, não quero que exista isso entre nós. Sinto sim, exageradamente, a sua falta. No momento estou com um nozinho na garganta por pensar que faz mais de mês que não nos falamos. Prometo que não deixarei mais isso acontecer. Nem que seja por 5 minutos diarios, quero saber da sua vida, saber o que leu no jornal ou viu na tv.

    Seu coração é nobre demais, viu? É uma das coisas mais fofas que Deus criou.

    Saukerl.

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