Pedro era um menino tímido e, como tímido, ficava sempre em
um canto sentado na sua sala de primeira série. Brincava quando era chamado,
mas mesmo assim não brincava 100%. De vez em quando nem era chamado. Aos 10
anos mentiu para a mãe e obteve a primeira grande decepção da sua vida. Aos 10
anos aprendeu que mãe tem sempre razão. Mudou de escola, para uma maior e maior
foi a sua solidão. Conheceu pessoas que já não fala mais, conheceu pessoas que
levará para a vida toda (apenas uma) e conheceu a si mesmo como uma pessoa
fracassada. No segundo ano de ensino médio tomou a maior decisão que já tomara
na vida: mudou de colégio nos 45 minutos do segundo tempo. Melhor decisão que
ele tomaria na vida. Talvez a única positiva. Entrou no curso certo (na época)
na faculdade errada. Depois entrou no curso errado na faculdade certa e
percebeu que as mães nem sempre tem razão. Coletou decepções e angústias,
introjetou conceitos distorcidos e decepções, absorveu críticas a si mesmo como
verdades absolutas e se escondeu em um mundo só seu. Hoje segue a vida que não
pediu a ninguém, muito menos a Deus, mas foi a vida que construiu durante a sua
caminhada. Conformado, Pedro sofre de depressões momentâneas e pensamentos
socialmente reprovados rezando para que leitura de mente seja uma tecnologia
que nunca venha a se concretizar. Tão covarde, se esconde atrás de um blog,
atrás de um personagem fictício que não serve para nada além de concretizar o
que realizou a vida toda: fugir da realidade por medo, puro medo. Medo de não
se aceito, medo de ser rejeitado. Hoje vive num mundo só seu, tão seu que
ninguém nunca o visitou.
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