Controle Remoto

Eles tentam me controlar. Querem saber da minha vida e me perguntam como estou. Se quiser saber, para eles estou sempre muito bem, obrigado. Mesmo que não esteja, porque sei de independente disto sempre irão me difamar pelas minhas costas, quando eu levantar da mesa do almoço ou do jantar. Sussurram entre si, ou sozinhos, não podem deixar que eu os escute, não, não é moralmente correto falar pelas costas. Mas falam. E eu escuto, da cozinha, da sala de jantar, do meu quarto. Escuto vozes e elas me condenam. Condenam-me pelo o que eu não fiz, condenam-me por eu falar o que realmente penso, condenam-me por não querer ser o modelo socialmente aceito de humano alienados, como são. Vigiam-me na sala, em sua cadeira de balanço confortável, olhando-me pelo canto do olho para que eu não possa perceber e nem percebo mesmo. A televisão me parece mais interessante do que a futilidade a que eles se prendem, a que eles defendem. Engulo tudo, digerindo cada sílaba pronunciada pelas bocas venenosas daqueles que vivem de aparência, daqueles que querem apenas agradar ou se afirmar com alguma brincadeira machista desrespeitosa. Destruo cada uma delas, as sílabas, e as elimino junto com os resíduos sólidos que entram pela minha boca e se misturam às palavras no meu âmago. Eles nunca vão me controlar.

"Você que nem me ouve até o fim, injustamente julga por prazer.
Cuidado quando for falar de mim e não desonre o meu nome.
Será que eu já posso enlouquecer? Ou devo apenas sorrir?
Não sei mais o que eu tenho que fazer pra você admitir que você me adora,
Que me acha foda. Não espere eu ir embora pra perceber que você me adora,
Que me acha foda. Não espere eu ir embora pra perceber.
Perceba que não tem como saber, são só os seus palpites na sua mão.
Sou mais do que o seu olho pode ver, então não desonre o meu nome.
Não importa se eu não sou o que você quer. Não é minha culpa a sua projeção.
Aceito a apatia, se vier, mas não desonre o meu nome"

2 comentários:

  1. Bastante profundo mano, e isso reproduz a realidade em que vivemos atualmente.

    ResponderExcluir
  2. "Não é minha culpa a sua projeção."
    Pra mim esse trexo resumiu tudo. Hum sei lá, achei foda!

    Vida de gente diferente é chatinha mesmo, meu bem. Mas, eis a boa noticia: hoje um herege, um maluco qualquer. Amanhã todo irão no minimo te respeitar.

    te amo meu lindinho [você me inspira a inumeros apelidos haha]
    ;*

    ResponderExcluir

MAIS RECENTE

White Noise

A vida inteira eu tento me encaixar por todos os lugares onde me vejo obrigado a estar. No início a escola, cursos extra curriculares, curso...