Aquela Crise dos Vinte e Quatro Anos

Eu... eu... nem eu mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.
- Alice no País das Maravilhas

O horizonte nunca pareceu tão distante quanto agora, tão escuro quanto agora, tão “não desejado” quanto agora. O meu horizonte não mostra um nascer do sol daqueles de querer ficar olhando por horas até que o sol se mostre por completo, após algumas horas tímido entre o se mostrar ou não se mostrar. Aqui o horizonte está mais para um sol já se despedindo de anos dourados, se escondendo por trás daquela linha onde agora sobem agouros em uma meia lua decrescente que mais parece o sorriso do gato da história de Alice. “Daqui para frente é apenas descida”, já me diziam quando recém completava duas décadas e quatro anos de vida. Ainda inocente, sorri da brincadeira e segui a minha vida, descrente. O sol, que para mim, parecia nascendo, está, na verdade, se pondo. Está me deixando para se mostrar para outro alguém, assim como me deixam pessoas. Assim como me deixam.

A crise vem com a lua, independente da fase. Talvez o lobisomem seja apenas um homem, um homem normal, que não aguentou a angústia da lua cheia e explodiu em pedaços, em instinto, voltou a ser quem éramos. Voltou a ser quem somos. Só que agora não caçamos mais a refeição, caçamos uns aos outros. Desviamos-nos uns dos outros. Nestes desvios, um ou outro se perde pelo caminho ou caminhos se perdem uns nos outros. Se cruzam, se juntam, se partem, se tocam, nunca tocam. Não mais tocam. Esperam para que o sol retorne, para que essa lua de sorriso de desdém dê lugar àquilo que sempre foi meu, que sempre foi teu e que sempre foi nosso. Esperam para que chegue a primavera com rosas regadas com águas salgadas de pranto, meu pranto.

Um comentário:

  1. Acredito que a verdadeira busca que todos temos de ter nessa vida é a por liberdade. Precisamos ser, a cada dia mais, livres. Livre do sucesso, do fracasso, das pessoas, dos lugares e de nós mesmos. Livres para viver cada momento em sua plenitude, cada lugar em seus traços ocupando o vazio e de cada pessoa e sua personalidade construída sob sua experiência. Então, em todas as experiências que você viver e buscar ter, procure uma forma de ser mais livre ao final dela. Essa, acredito, é nossa maior busca.
    O maior aprendizado? Aprender a perder. Tudo nessa vida é feito de ciclos. A flora, a fauna, o sempre exemplo da maré, mas também nossos fracassos, sucessos, nossos amores, nossos amigos... Vêm e vão... Bons e velhos nos deixam, novos aparecerem... Nos deixam... E assim a vida segue. A todo tempo estamos perdendo, perdendo o sapato que não dá mais, os amiguinhos do colégio, aquele primeiro amor não correspondido, assim como o primeiro correspondido também, os amigos da faculdade, às vezes até nossos ideais de jovem... Perdemos o tempo todo, aquele família gigante em torno de nossos avós... Era um lugar tão acolhedor... Mas eles partem, assim como nossos pais também partirão... Continuamos a perder perdendo sempre. Aqui, portanto, entra o maior aprendizado: aprender a perder para ser mais livre, para se ter mais liberdade.
    Apegue-se ao futuro ou ao passado e você não viverá plenamente. Apegue-se ao sucesso ou fracasso e tenha certeza de que você fracassará em breve.
    Liberdade deve ser a busca, sempre. Assim, talvez lá na frente, você não se desespere por tanto acúmulo de passado em sua mente, tantos amigos perdidos, etc. Mas, sempre, vale lembrar: nunca nunca lhe pertenceu. Tudo estava/está de passagem.
    É isto: aponte-me um homem sábio e eu lhe apontarei um homem livre.

    Grande abraço

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