Sociedade Moderna

Querem vender-me um sonho. Desses pré-fabricados, desses tipos populares. Aquele que todo mundo sonha. Aquele que envolve um bom emprego, um casamento, filhos e uma vida social falsamente agitada. Eu recuso a oferta, mas me dizem que é irrecusável. Me colocam numa prisão alegando que estão me preparando para a vida, me preparando para o mercado de trabalho. Vendem-me no mercado, como se eu fosse um produto moldado ao gosto do cliente... E sou. Ou tentam fazer com que eu seja. Nessa prisão me ensinam teorias ultrapassadas, me ensinam a cobrar direito que na prática nunca serão me dados, me ensinam a como me comportar e como controlar o comportamento das pessoas. Tento fugir, mas não consigo. As barreiras são altas e os supervisores vigilantes e impiedosos. Penso em tudo o que me espera lá fora, mas a vontade de sair, na verdade, me faz ficar. O medo do desconhecido me faz ver a beleza no que já tenho, me deixa conformado com o que já é meu. Apenas penso. Sorrio quando me imagino fora daqueles muros, penso quanto tempo falta para ganhar a liberdade. Três anos? Dois anos e meio? Me mostram um modelo de pessoa que não sou eu, querem instalar em mim vontades e desejos que não são meus. Procuro uma saída, mas a única que eu vejo não é a que eu quero. Corro, é tudo o que eu posso fazer.

Superman

Eu posso voar mesmo com meus pés no chão. Eu posso ser o que não sou, aquilo que eu queria ser e posso. Posso estar num lugar, mas em outro ao mesmo tempo. Tenho poder do teletransporte, ou não. Apenas o simulo, finjo, brinco, rio. Rio de água pura, transparente, vejo a areia sendo levada pela velocidade das águas, me vejo. Me vejo entre ouro, terra, seixos, peixes. Peixes de todas as cores descem e sobem, lutam contra a correnteza ou simplesmente seguem com ela até chegar a algum lugar que só saberão quando chegar. É uma escolha deles. Os que lutam, chegam onde querem - pois eles sabem o que querem. Lutam pelos ideais, pelas coisas que acreditam. Os outros, apenas vão, como aceitaram que fosse. E eu, ali, olhando tudo isso como um expectador. Querendo ser aquele que luta contra a corrente, mas que não tem no que acreditar. Não querendo ser aquele que se deixa levar, por querer ter alguma coisa em que possa acreditar. Numa busca lateral, paralela a todos, numa busca por um lugar, apenas um lugar onde se sinta bem.

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