Janeiro. Verão. Férias. É meio que uma tradição na minha
família passar semanas (ou o mês inteiro) sem fazer absolutamente nada em uma
casa de praia na praia que eles já frequentavam desde muito antes do meu
nascimento. É gostar muito ou não ter nenhuma outra opção, mas a questão aqui é
outra. Família é engraçada porque, por algum motivo, eles acham que tem total
controle e permissão para opinar sobre a sua vida e dizer o que eles acham que
você deveria fazer com ela, sem nem perguntar a sua opinião. É um direito
deles, mas...
Críticas de parentes normalmente são destrutivas, eles só
querem te lembrar do quanto você está fracassando na vida enquanto eles estão
indo exatamente pelo caminho contrário. Aqueles que realmente constroem um
argumento válido e te fazem pensar são tão poucos que acabamos relativizando
tudo para o lado negro da força. Junto ou injusto, não importa. Eles vão sempre
te colocar para baixo de alguma maneira e a questão aqui é: e daí?
Vai ser o seu cabelo. Vai ser o fato de você falar pouco.
Vai ser o fato de você trabalhar “de favor” na empresa da prima. Vai ser o fato
de você nunca ter namorado. Vai ser porque você ainda anda de transporte
coletivo. Vai ser porque você votou em Dilma ou porque você defende o direito
de minorias e as cotas. Vai ser qualquer coisa com a qual eles possam te
colocar para baixo na escala de importância imaginária deles. E não vai ser só
com você. Família é uma grande disputa de sucesso e fracasso, de viagens ou
noites em casa no Netflix, de beber ou não beber.
Entretanto, o que você aprende com os anos é que: nada disso
importa.
Viver a sua vida diz respeito apenas a você e você
exclusivamente. O que importa é a sua consciência limpa e tranquila e, de alguma
maneira, coerente (ou tentando ser). Se as intenções forem boas, é isso que
importa. O que você gosta, o que você faz ou para onde você vai nos fins de
semana interessam a você e ninguém paga as suas contas. E foi assim que vivi a
semana na praia mais tranquila e mais relaxante dos meus últimos dez anos
convivendo com a minha família. Afastei-me de uns, me aproximei de outros, mas
o mais importante é que construí dentro de mim caminhos de pensamento que
permitem com que eu me entenda, me aceite e me orgulhe de quem eu sou.
E quando você entra neste caminho, ele se mostra como um
caminho sem volta. Um caminho onde a vida fica mais luminosa a cada dia. Onde
sonhos são possibilidades e utopia é apenas uma realidade possível que ainda
não se realizou.
Amém.