Curta #3: Porto

Já fui navio e já fui porto.
Já fui navio no porto, torto.
Naveguei por mares revoltos,
Bati no porto. Torto.
Hoje sou navio solto, ancorando de porto em porto.
Navegando pelo mar revolto, feliz com meu jeito torto.
Hoje sou porto para navios que chegam tortos,
Se protegendo de mares revoltos.
Hoje sou navio e hoje sou porto.

Aquela Crise dos Vinte e Quatro Anos

Eu... eu... nem eu mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.
- Alice no País das Maravilhas

O horizonte nunca pareceu tão distante quanto agora, tão escuro quanto agora, tão “não desejado” quanto agora. O meu horizonte não mostra um nascer do sol daqueles de querer ficar olhando por horas até que o sol se mostre por completo, após algumas horas tímido entre o se mostrar ou não se mostrar. Aqui o horizonte está mais para um sol já se despedindo de anos dourados, se escondendo por trás daquela linha onde agora sobem agouros em uma meia lua decrescente que mais parece o sorriso do gato da história de Alice. “Daqui para frente é apenas descida”, já me diziam quando recém completava duas décadas e quatro anos de vida. Ainda inocente, sorri da brincadeira e segui a minha vida, descrente. O sol, que para mim, parecia nascendo, está, na verdade, se pondo. Está me deixando para se mostrar para outro alguém, assim como me deixam pessoas. Assim como me deixam.

A crise vem com a lua, independente da fase. Talvez o lobisomem seja apenas um homem, um homem normal, que não aguentou a angústia da lua cheia e explodiu em pedaços, em instinto, voltou a ser quem éramos. Voltou a ser quem somos. Só que agora não caçamos mais a refeição, caçamos uns aos outros. Desviamos-nos uns dos outros. Nestes desvios, um ou outro se perde pelo caminho ou caminhos se perdem uns nos outros. Se cruzam, se juntam, se partem, se tocam, nunca tocam. Não mais tocam. Esperam para que o sol retorne, para que essa lua de sorriso de desdém dê lugar àquilo que sempre foi meu, que sempre foi teu e que sempre foi nosso. Esperam para que chegue a primavera com rosas regadas com águas salgadas de pranto, meu pranto.

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