Terapia.


A: Para que tanto medo? De que te serve tanto medo?
B: ...
A: Do que você tem medo?
B: Medo de mudar, medo de errar, medo...
A: E ninguém pode errar?
B: EU não posso errar.
A: E você é especial para não poder errar?
B: Não quero decepcionar ninguém. Não quero decepcionar meus pais.
A: Seus pais já lhe decepcionaram alguma vez?
B: Sim.
A: E você os odeia eternamente por isso?
B: Não.
A: Então medo de que?
B: ...
A: ...
B: É complicado.
A: Por que?
B: Não sei, mas é.

15° Dia (ou Aquele Que Tive Forças Para Escrever)


Sinto tua falta. Falta de te ver deitada, falta de te ver correr, falta de te levar para passear. Sinto tua falta. Falta da tua pele, falta de te tocar. Sinto falta do teu cheiro, do teu mau hálito, da tua língua tantas vezes fora da boca. Sinto falta de te ver na janela ao abrir o portão de casa, sinto falta de saber que me esperas com uma recepção daquelas que só tu sabes fazer (e só de tu que a quero). Me falta a tua alegria, o teu companheirismo, os teus conselhos mudos, os teus consolos lambidos. Sinto falta do teu maniqueísmo falho, do teu ciúme bobo, do teu amor desastrado.
Só quero que saibas que não desisti de você, pelo contrário, desisti de mim... Por você. Estacionei teu sofrimento para começar o meu, imaginando que suportaria esta sensação. Sou fraco, não suporto e por mais besta que possa parecer: choro. Choro por não mais te ter, choro por não mais te ver.

Íon.


Tá sobrando espaço do meu lado.
Tá faltando afeto, tá faltando afago, aquele abraço apertado.
E ai você tão cheio de si, alugando espaço alheio.
E eu tentando, aqui, preencher os meus vazios no peito.

Pedro.


Pedro era um menino tímido e, como tímido, ficava sempre em um canto sentado na sua sala de primeira série. Brincava quando era chamado, mas mesmo assim não brincava 100%. De vez em quando nem era chamado. Aos 10 anos mentiu para a mãe e obteve a primeira grande decepção da sua vida. Aos 10 anos aprendeu que mãe tem sempre razão. Mudou de escola, para uma maior e maior foi a sua solidão. Conheceu pessoas que já não fala mais, conheceu pessoas que levará para a vida toda (apenas uma) e conheceu a si mesmo como uma pessoa fracassada. No segundo ano de ensino médio tomou a maior decisão que já tomara na vida: mudou de colégio nos 45 minutos do segundo tempo. Melhor decisão que ele tomaria na vida. Talvez a única positiva. Entrou no curso certo (na época) na faculdade errada. Depois entrou no curso errado na faculdade certa e percebeu que as mães nem sempre tem razão. Coletou decepções e angústias, introjetou conceitos distorcidos e decepções, absorveu críticas a si mesmo como verdades absolutas e se escondeu em um mundo só seu. Hoje segue a vida que não pediu a ninguém, muito menos a Deus, mas foi a vida que construiu durante a sua caminhada. Conformado, Pedro sofre de depressões momentâneas e pensamentos socialmente reprovados rezando para que leitura de mente seja uma tecnologia que nunca venha a se concretizar. Tão covarde, se esconde atrás de um blog, atrás de um personagem fictício que não serve para nada além de concretizar o que realizou a vida toda: fugir da realidade por medo, puro medo. Medo de não se aceito, medo de ser rejeitado. Hoje vive num mundo só seu, tão seu que ninguém nunca o visitou.

Domingo.


Acabo o dia com a impressão de incomodar, de ocupar espaços que não precisam ser ocupados. Acabo o dia achando ser desinteressante, fútil, sem conteúdo. Inútil. Bem útil para momentos de tédio alheio, para aquele momento onde as pessoas se veem sem opção. Depois de mim apenas o U, V, X, Z. Talvez o nome já preconizasse esta situação, talvez seja algo escrito em linhas tortas, tão tortas que nem a gramática mais correta ajeitaria. . Trabalho. Tédio. Tatu. Tolerado. Tímido. . Talvez uma maldição, daquelas que não desejamos nem aos inimigos. Daquelas que você não quer nunca que aconteça com seu filho. Filhos. Melhor não tê-los a condena-los à obrigação de se espelhar em uma pessoa tão triste e mal sucedida. Entretanto, se um conselho pudesse dar, diria para que sejam nomeados os filhos já gerados apenas com Anas, Andrés, Amandas ou Adrianos. Para que, se amaldiçoados, ao menos na lista telefônica venham a conquistar lugares primeiros, uma sensação que talvez você conheça e que (suponho) nunca irei conhecer.

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