Superficial adj.: 2. Que não se interessa por coisas importantes

O clichê dos clichês posicionado em primeiro lugar na lista de clichês mais utilizados por pessoas que gostam de ser clichê é: a sociedade hoje é muito superficial. E de fato, não lhes tiro a razão. Vivemos em uma sociedade de aparências onde ter é mais importante que ser e mimimi. O que você talvez nunca tenha parado para pensar é que essa é uma visão bastante egoísta e egocêntrica das pessoas e do modo como elas se enxergam na sociedade. É uma visão micro ambiental, uma visão para dentro do próprio umbigo.

Como seguidor de um pensamento sustentável (pela modinha do momento ou não) e como indivíduo que se viu afogado nestas questões pelo novo trabalho, o pensamento ecologicamente correto se tornou mais constante na minha vida do que quando tinha conhecimento apenas por blogs e ativismos online. Lixo, reaproveitamento de resíduos, logística reversa, reflorestamento, produção mais limpa. Todos esses aspectos mais profundos que me acordaram para um pensamento: não são as pessoas que são superficiais, mas a sociedade como um todo é pautada por ações superficiais, por ações de efeitos de curto prazo, por remendos em feridas tão profundas que nunca saram por não serem tratadas como deveriam. São estas ações que podem ser notadas. São estas ações que vão ser lembradas. São estas ações que serão lembradas que importam. A questão não é solucionar o problema lá no fundo (onde ninguém vai perceber até que surta efeito), é tratar a pele ferida escondendo a infecção interna.

E é por isso nascem campanhas como a das sacolinhas plásticas nos supermercados, campanhas de reflorestamento para “anular” os impactos e estudos sobre até o mar estar poluindo o meio ambiente. Não são estas as questões relevantes (e nem é objetivo deste texto trazer aos olhos que questões são estas para não ficar um texto muito longo), mas são estas questões que conseguem ser visualizadas pelas pessoas sem nenhum conhecimento. Abandonar o uso de sacolinhas plásticas nos supermercados e mercadinhos não vai proporcionar melhora em setor nenhum que não seja o de produtores daqueles sacos azuis/pretos grandes de lixo. As sacolinhas (para não perder o diminutivo) são reutilizadas de inúmeras maneiras pelas casas e não são responsáveis pela maior poluição nos aterros sanitários. O responsável por isso é o sistema falho de coleta e separação de lixo exercido pelo governo dos municípios. E que sistema existe?

Por outro lado, uma medida que vem se disseminando na sociedade e que, essa sim, tem algum benefício no movimento verde, é a separação do lixo dentro de casa. Apesar de não ser uma ação de impacto social, pois você realiza dentro da sua privacidade, a grande quantidade de adeptos impressiona. É importante, entretanto, assegurar que o caminho final deste lixo selecionado seja uma cooperativa de reciclagem ou qualquer local que tenha esta finalidade. Você pode também encontrar uma pessoa que recolha este lixo e venda para estas cooperativas, ajudando assim tanto o catador quando o meio ambiente.

Só peço que não sejam ambientalistas superficiais iludidos que salvarão o mundo lutando contra o uso das sacolinhas plásticas e a favor da utilização de sacolas de tecidos fabricadas com trabalho escravo infantil no Taiwan.

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